Canção (Cecília Meireles)

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Pus o meu sonho num navio


e o navio em cima do mar;

- depois, abri o mar com as mãos,

para o meu sonho naufragar.





Minhas mãos ainda estão molhadas

do azul das ondas entreabertas,

e a cor que escorre dos meus dedos

cobre as areias desertas.





O vento vem vindo de longe,

a noite se curva de frio;

debaixo da água vai morrendo

meu sonho dentro de um navio...





Chorarei quanto for preciso,

para fazer com que o mar cresça,

e o meu navio chegue ao fundo

e o meu sonho desapareça.





Depois, tudo estará perfeito:

praia lisa, águas ordenadas,

meus olhos secos como pedras

e as minhas duas mãos quebradas.

LUZ DE LUNA (Chavela Vargas).

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Yo quiero luz de luna


Para mi noche triste

Para soñar divina

La ilusión que me trajiste

Para sentirte mía, mía tú

Como ninguna

Pues desde que te fuiste

No he tenido luz de luna

Pues desde que te fuiste

No he tenido luz de luna

Si ya no vuelves nunca

Provincianita mía

A mi senda querida

Que está triste y está fría

En vez de en mi almohada

Lloraré sobre mi tumba

Pues desde que te fuiste

No he tenido luz de luna

Pues desde que te fuiste

No he tenido luz de luna

Yo siento tus amarras

Como garfios, como garras

Que me ahogan en la playa

De la farra y el dolor

Y siento tus cadenas a rastras

En mi noche callada

Que sea plenilunada

Y azul como ninguna

Pues desde que te fuiste

No he tenido luz de luna

Pues desde que te fuiste

No he tenido

luz de luna.

Sangue Latino (Composição: João Ricardo / Paulinho Mendonça. Canta Ney Matogrosso)

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Jurei mentiras E sigo sozinho

Assumo os pecados

Uh! Uh! Uh! Uh!...

Os ventos do norte

Não movem moinhos

E o que me resta É só um gemido...
Minha vida, meus mortos

Meus caminhos tortos

Meu Sangue Latino

Uh! Uh! Uh! Uh!

Minh'alma cativa...
Rompi tratados Traí os ritos

Quebrei a lança

Lancei no espaço

Um grito, um desabafo...
E o que me importa

É não estar vencido

Minha vida, meus mortos

Meus caminhos tortos

Meu Sangue Latino

Minh'alma cativa...

Mera fantasia de cérebro demente

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Ascendi o farol dos olhos puxados, grandes bolas amarelas, como as do gato no escuro; era tudo silencioso, sem mosquito, sem barulho de rua, tudo tão calmo até levantar-me para fumar e foi nesse momento que apontei o movimento e avistei a sombra, profunda, tensa e intensa, amedrontada, escondendo-se entre as saias de tijolos, inquieta brincava com meu desconcentro; o âmbito tinha sido invadido, então fui atrás para ver quem era a incansável fugitiva, - me cansais tanto na ida -; tomei ar estufando o pulmão, como quem não quer nada parei na esquina e aí estava ela, espiando-me; fui em frente e, todavia a ousada veio atrás, agora era eu quem estava sendo perseguida, o medo me afastou dos corredores e as grandes bolas amarelas brilharam sem piscar, ia dar mais um pulo e fui surpreendida pelo pensamento. – Pêra aí, se foi eu quem estava a procurá-la, ora bandida, te pego!-. Novamente enchi-me de coragem, rapidamente olhei em busca de armas e encontrei uma vassoura, a ergui, posicionando-me para a luta; mas, a covarde se afundou no escuro e não quis sair mais. Fiquei na expectativa e nada, logo cansada coloquei a espada no chão e dei a volta lentamente, afastando-me alguns metros olhei de recanto, foi embora, a invasora do quarto deve ter caído no sono, me espichei e levantei, é dia, tão diferente da noite. Ascendi um cigarro, satisfeita da companhia.

Rugas (ellegnal)

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O relógio no rosto,
Deixou marcas,
Expressões,
Distante da infância,
Do que deveria ser sabedoria a vista,
O mais próximo,
No desgaste da pilha,
Reflete os ponteiros
No piscar do olho,
A cada segundo,
Fotografando memórias,
Diferente é à noite,
Diferente do dia,
Adequados,
Acostumados na seqüência,
Na ciranda da vida.
Opa!
O alarme tocou,
É hora de dormir.

A mi cuerpo lo abandono: (langelle)

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I
6 y 59 de la mañana, a un minuto de los sueños,
Frío invasor de huesos, temblor y miedo;
Ausencia de palabras, silencio congelado,
Ausencia humana, soledad figurada.
Ausencias miles y miles disculpas,
Mi vestido rojo que no escogí
Hoy lo visto ya un poco despintado
Mis zapatos sin tacones
Todavía sirven y tienen un visual infantil
A mi voz la incorporo en un papel virtual
Eterna, únicamente viva y sin sangre
Latiendo, sintiendo, huyendo,
Segundos se van en la luz tibia
A un minuto de los sueños
Yo despierto en cuanto duermes
Y duermo en cuanto el agito fluye
Viajo sin el cuerpo y vivo con el alma
A un minuto de los sueños.


II
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POEMA XV (Pablo Neruda)

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Me gustas cuando callas porque estás como ausente,
y me oyes desde lejos, y mi voz no te toca.
Parece que los ojos se te hubieran volado
y parece que un beso te cerrara la boca.
Como todas las cosas están llenas de mi alma
emerges de las cosas, llena del alma mía.
Mariposa de sueño, te pareces a mi alma,
y te pareces a la palabra melancolía.
Me gustas cuando callas y estás como distante.
Y estás como quejándote, mariposa en arrullo.
Y me oyes desde lejos, y mi voz no te alcanza:
déjame que me calle con el silencio tuyo.
Déjame que te hable también con tu silencio
claro como una lámpara, simple como un anillo.
Eres como la noche, callada y constelada.
Tu silencio es de estrella, tan lejano y sencillo.
Me gustas cuando callas porque estás como ausente.
Distante y dolorosa como si hubieras muerto.
Una palabra entonces, una sonrisa bastan.
Y estoy alegre, alegre de que no sea cierto.

Vinte Poemas de Amor – XX - Pablo Neruda

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Vinte Poemas de Amor – XX
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.Escrever, por exemplo: "A noite está estrelada,e tiritam, azuis, os astros lá ao longe".O vento da noite gira no céu e canta.Posso escrever os versos mais tristes esta noite.Eu amei-a e por vezes ela também me amou.Em noites como esta tive-a em meus braços.
Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito.Ela amou-me, por vezes eu também a amava.Como não ter amado os seus grandes olhos fixos.Posso escrever os versos mais tristes esta noite.Pensar que não a tenho. Sentir que já a perdi.
Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela.E o verso cai na alma como no pasto o orvalho.Importa lá que o meu amor não pudesse guardá-la.A noite está estrelada e ela não está comigo.Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe.
A minha alma não se contenta com havê-la perdido.Como para chegá-la a mim o meu olhar procura-a.O meu coração procura-a, ela não está comigo.A mesma noite que faz branquejar as mesmas árvores.Nós dois, os de então, já não somos os mesmos.Já não a amo, é verdade, mas tanto que a amei.Esta voz buscava o vento para tocar-lhe o ouvido.De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos.A voz, o corpo claro. Os seus olhos infinitos.Já não a amo, é verdade, mas talvez a ame ainda.É tão curto o amor, tão longo o esquecimento.Porque em noites como esta tive-a em meus braços,a minha alma não se contenta por havê-la perdido.Embora seja a última dor que ela me causa,e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo.