Mera fantasia de cérebro demente

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Ascendi o farol dos olhos puxados, grandes bolas amarelas, como as do gato no escuro; era tudo silencioso, sem mosquito, sem barulho de rua, tudo tão calmo até levantar-me para fumar e foi nesse momento que apontei o movimento e avistei a sombra, profunda, tensa e intensa, amedrontada, escondendo-se entre as saias de tijolos, inquieta brincava com meu desconcentro; o âmbito tinha sido invadido, então fui atrás para ver quem era a incansável fugitiva, - me cansais tanto na ida -; tomei ar estufando o pulmão, como quem não quer nada parei na esquina e aí estava ela, espiando-me; fui em frente e, todavia a ousada veio atrás, agora era eu quem estava sendo perseguida, o medo me afastou dos corredores e as grandes bolas amarelas brilharam sem piscar, ia dar mais um pulo e fui surpreendida pelo pensamento. – Pêra aí, se foi eu quem estava a procurá-la, ora bandida, te pego!-. Novamente enchi-me de coragem, rapidamente olhei em busca de armas e encontrei uma vassoura, a ergui, posicionando-me para a luta; mas, a covarde se afundou no escuro e não quis sair mais. Fiquei na expectativa e nada, logo cansada coloquei a espada no chão e dei a volta lentamente, afastando-me alguns metros olhei de recanto, foi embora, a invasora do quarto deve ter caído no sono, me espichei e levantei, é dia, tão diferente da noite. Ascendi um cigarro, satisfeita da companhia.

Rugas (ellegnal)

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O relógio no rosto,
Deixou marcas,
Expressões,
Distante da infância,
Do que deveria ser sabedoria a vista,
O mais próximo,
No desgaste da pilha,
Reflete os ponteiros
No piscar do olho,
A cada segundo,
Fotografando memórias,
Diferente é à noite,
Diferente do dia,
Adequados,
Acostumados na seqüência,
Na ciranda da vida.
Opa!
O alarme tocou,
É hora de dormir.

A mi cuerpo lo abandono: (langelle)

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I
6 y 59 de la mañana, a un minuto de los sueños,
Frío invasor de huesos, temblor y miedo;
Ausencia de palabras, silencio congelado,
Ausencia humana, soledad figurada.
Ausencias miles y miles disculpas,
Mi vestido rojo que no escogí
Hoy lo visto ya un poco despintado
Mis zapatos sin tacones
Todavía sirven y tienen un visual infantil
A mi voz la incorporo en un papel virtual
Eterna, únicamente viva y sin sangre
Latiendo, sintiendo, huyendo,
Segundos se van en la luz tibia
A un minuto de los sueños
Yo despierto en cuanto duermes
Y duermo en cuanto el agito fluye
Viajo sin el cuerpo y vivo con el alma
A un minuto de los sueños.


II
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POEMA XV (Pablo Neruda)

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Me gustas cuando callas porque estás como ausente,
y me oyes desde lejos, y mi voz no te toca.
Parece que los ojos se te hubieran volado
y parece que un beso te cerrara la boca.
Como todas las cosas están llenas de mi alma
emerges de las cosas, llena del alma mía.
Mariposa de sueño, te pareces a mi alma,
y te pareces a la palabra melancolía.
Me gustas cuando callas y estás como distante.
Y estás como quejándote, mariposa en arrullo.
Y me oyes desde lejos, y mi voz no te alcanza:
déjame que me calle con el silencio tuyo.
Déjame que te hable también con tu silencio
claro como una lámpara, simple como un anillo.
Eres como la noche, callada y constelada.
Tu silencio es de estrella, tan lejano y sencillo.
Me gustas cuando callas porque estás como ausente.
Distante y dolorosa como si hubieras muerto.
Una palabra entonces, una sonrisa bastan.
Y estoy alegre, alegre de que no sea cierto.

Vinte Poemas de Amor – XX - Pablo Neruda

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Vinte Poemas de Amor – XX
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.Escrever, por exemplo: "A noite está estrelada,e tiritam, azuis, os astros lá ao longe".O vento da noite gira no céu e canta.Posso escrever os versos mais tristes esta noite.Eu amei-a e por vezes ela também me amou.Em noites como esta tive-a em meus braços.
Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito.Ela amou-me, por vezes eu também a amava.Como não ter amado os seus grandes olhos fixos.Posso escrever os versos mais tristes esta noite.Pensar que não a tenho. Sentir que já a perdi.
Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela.E o verso cai na alma como no pasto o orvalho.Importa lá que o meu amor não pudesse guardá-la.A noite está estrelada e ela não está comigo.Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe.
A minha alma não se contenta com havê-la perdido.Como para chegá-la a mim o meu olhar procura-a.O meu coração procura-a, ela não está comigo.A mesma noite que faz branquejar as mesmas árvores.Nós dois, os de então, já não somos os mesmos.Já não a amo, é verdade, mas tanto que a amei.Esta voz buscava o vento para tocar-lhe o ouvido.De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos.A voz, o corpo claro. Os seus olhos infinitos.Já não a amo, é verdade, mas talvez a ame ainda.É tão curto o amor, tão longo o esquecimento.Porque em noites como esta tive-a em meus braços,a minha alma não se contenta por havê-la perdido.Embora seja a última dor que ela me causa,e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo.